segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Estou de "Esperanças"


Picasso - Maternidade

É mesmo! Estou grávida de oito semanas. Ainda nem acredito! O Gervásio, então, não cabe em si de contente!... Diz ele que nunca tinha pensado em ter filhos... até me ter encontrado (dá cabo de mim com mimos, este homem!). Eu, pelo contrário, sempre quis vir a ter filhos, constituir uma família, mas nunca pensei que tudo acontecesse assim tão rapidamente. Pensando bem, ainda há pouco mais de quatro meses, o futuro pai do meu filho (ele diz que vai ser uma filha... vá-se lá saber porquê!) era um completo desconhecido, de quem eu tinha tinha lido apenas uns textos num blogue, e que o meu amigo Rodrigo descrevia como tratando-se de um homem inteligente, metódico, educadíssimo, mas totalmente excêntrico e, posso confessá-lo agora, eu imaginava-o meio desaparafusado e um canastrão sem ponta por onde se lhe pegasse!

Diz o povo, e os meus amigos sabem como eu tenho apreço pela sabedoria popular que "quem feio ama, bonito lhe parece". Será o caso? Não é que isso me importe, verdadeiramente, a não ser pela possibilidade de alguns genes "desengonçados" e "de beleza duvidosa" serem herdados pela minha criancinha, que já tanto amo e imagino que venha a ser bonita como um dia radioso no alto do monte. No fundo, não passo de uma aquariana romântica... Ciência? O que é isso? Uma mulher grávida apenas deseja que o seu bebé nasça são, escorreito, e perfeitavelmente saudável. Inevitavelmente, e por mera coincidência, o mais lindo do mundo, é claro!...

Por acaso passará pela cabeça de alguém que uma futura mãe, pelo facto de ser médica (ainda por cima com pediatria por especialidade), pense, nesta altura, de forma diferente de uma cozinheira, de uma engenheira, de uma professora ou de uma camponesa? Desenganem-se! Somos todas iguais... quando se trata da nossa futura cria, terá quer ser perfeita, como é óbvio.
A verdade, verdadinha, é que, desde que está comprovada a gravidez, dou por mim, de quando em vez, a olhar de esguelha para as feições do Gervásio, "como quem não quer a coisa", e a pensar: "se saír ao pai, vai ter uns olhos lindíssimos... já se lhe herdar as orelhas... uma operaçãozita plástica é capaz de resolver isso em três tempos... quanto ao resto, não me preocupo, ele tem tudo no sítio." Enquanto estou ocupada com estes pensamentos, esqueço-me de me olhar ao espelho, convencida que sempre fui de que sou bonita... e pronto! (lá vaidade não me falta, não é assim? ... mas se é o que eu sempre pensei, meus amigos... vou estar agora com falsas modéstias para quê? e para enganar quem?)
Bom, agora muito a sério, não é tudo tão superficial como estou a querer fazer parecer. Preocupo-me, seriamente, com os aspectos de ordem fisiológica e mental do meu filho. Não desejo para ele que seja uma criança sobredotada (detestaria mesmo que o fosse - só quero que o meu filho tenha um Q.I. considerado normal) mas tremo só de pensar em diferenças como as provocadas pelo síndrome de down, o autismo ou... fiquemos por aqui. Chegam-me os fantasmas que enfrento, frequentemente, quando pais, de olhar aterrorizado, mudos perante a notícia, ficam a saber que o seu "lindo menino" tem uma doença congénita incurável, ou é portador de um vírus potencialmente fatal.

Comecei este post com boa disposição e assim tenciono terminá-lo. Estou feliz como nunca. Dou por mim a cantarolar à toa, a sonhar com crianças a brincar no jardim, sinto-me a mulher mais aventurada do planeta e todas as pequenas coisas do quotidiano que me aborreciam, ou incomodavam, passaram à categoria de "insignificantes", face a este grandioso acontecimento que é o facto de ter, no horizonte de sete meses, a perspectiva da maternidade.
Voltarei com novidades, quando as tiver.