sábado, 1 de novembro de 2008

O lado oculto da Lua





Pink Floyd - Brain damage / Eclipse (The Dark side of the Moon)


Elizabeth Wilde...

Diz-vos alguma coisa?

Não, não se trata do nome de algum familiar ou descendente do grande escritor Oscar Wilde. Aliás, tanto quanto vim a descobrir quando investiguei sobre o assunto, estamos perante um apelido muito comum em terras de Sua Majestade. A propósito de Sua Majestade: pois é, Elizabeth, a segunda rainha daqueles domínios com esse nome, tendo sido a primeira uma Tudor, filha da Ana Bolena e do Rei Henrique VIII, que acabou por mandar decapitar esta sua segunda esposa, depois de a ter mantido presa na Torre de Londres...
Bom, a verdade é que esta Elizabeth Wilde não tem nada a ver com os Wilde da Irlanda, muito menos com os Tudor e menos ainda, se possível, com as Bolena, porque... bem, porque a pessoa que tem estes dois nomes em documentos legais, como o B.I., o NIF e a Carta de Condução, é esta vossa amiga.

Podem pasmar de espanto!

Para meu imenso embaraço, como podem calcular, o meu nome completo (que só uso mesmo para fins oficiais, quando a isso sou obrigada) é: Mafalda Elizabeth Wilde Coimbra. É um horror, eu sei. Por favor, sendo meus amigos, não comentem sobre esse facto que tanto me desagrada.

Imaginem-me com ar "enfiado" e a responder em voz baixa, para logo ter que repetir mais alto porque, do outro lado, invariavelmente, quem perguntou não percebeu à primeira, a dizer a uma autoritária funcionária pública que, literalmente, grita:
- NOME COMPLETO!
(BRRRR!!! que raiva!)...
Mas porque vos estou a revelar esta verdade?

Porque acho que devo, para bem da lealdade que tenho para convosco, e da minha consciência, dizer-vos, de uma vez por todas, que, em termos de filiação, metade de mim é inglesa...
Ninguém é perfeito, não é assim?
Pois eu tenho que carregar este fardo durante a minha vida e, pior do que isso, transmiti-lo nos genes aos meus descendentes.
Mas chega de suspense, e vamos a contar a história depressa, para depois não mais se falar sobre o assunto:

Como devem saber, perdi os meus pais num trágico acidente de viação. O que a grande maioria de vós não sabe é que a minha mãe se chamava Anne Wilde. Mais propriamente, Anne Saint-John Wilde mas, tal como eu, apenas usava o primeiro e o último nome.

Em criança, com a curiosidade e persistência própria da idade, muitas vezes fiz perguntas directas, que agora percebo tenham sido extremamente embaraçosas de responder pela minha querida avó Luísa, relativamente aos meus familiares do lado materno. Entre as respostas que ela me foi dando ao longo dos anos (mais tarde já mais abertamente, embora eu sempre tivesse sentido que, com toda a razão, o assunto lhe era extremamente confrangedor) e algumas conversas que fui "apanhando" entre a avó e a Madalena, consegui juntar as peças do puzzle e chegar ao que passo aqui a resumir:

O meu pai, licenciado em medicina pela Universidade de Coimbra, foi fazer o internato para a especialidade de neurocirurgia num conhecido hospital de Londres.

Na rua onde morava, quase em frente, vivia também uma jovem estudante de Artes, que se tinha deslocado para a capital para frequentar a Faculdade. Vai na volta, conheceram-se e apaixonaram-se (acontece, pois é, eu sei!...).

O pior é que a minha avó materna - Marion de seu nome, como a bem-amada do lendário Robin Hood (não Marian ou Marianne, como qualquer plebeiazita), nunca aceitou aquele namoro, tendo chegado ao ponto de dizer à minha mãe, quando soube da intenção do jovem casal, de "juntar os trapinhos" que, se isso acontecesse, e a minha mãe teimasse em ligar-se, através de laços matrimoniais, àquele homem do Norte de África, ou do Sul da Europa, ou lá o que era, nunca mais a consideraria como filha.

Viúva há alguns anos, a avó Marion tinha-se esquecido que, ela própria, uma Saint-John, tinha casado por amor, contra a vontade da família, com alguém vários degraus abaixo na escala social, o meu obscuro avô Christopher Wilde (porque não fazia parte do círculo de gente considerada "de linhagem" na preconceituosa sociedade de York).

Adiante: os meus pais decidiram que o amor que sentiam um pelo outro era mais importante que tudo o resto e vieram viver para Portugal, onde casaram e ficaram aqui no casarão, com a avó Luísa e o avô Augusto. Algum tempo depois nasci eu... e morreram quando ainda não tinha completado dois anos, razão pela qual não tenho deles qualquer memória, a não ser a que fui construindo a partir das fotografias que vi centenas de vezes e de algumas recordações partilhadas pela avó Luísa.

Tanto quanto pude apurar, nunca mais foi trocada uma palavra entre a minha avó inglesa e a minha mãe, nem sequer quando eu nasci, apesar de ela ter sabido, sem dúvida, do acontecimento, através da minha tia Emma com quem, ao que parece, a minha mãe sempre foi mantendo contacto por escrito.

Segundo a avó Luísa, estiveram presentes no funeral de meus pais a avó Marion, o tio William e a tia Emma, que desapareceram sem deixar rasto, rumo a Harrogate, (a cidade do Yorkshire em que habitavam na altura, terra de gente nobre, ou, pelo menos, endinheirada) imediatamente após a cerimónia.

No fundo do meu ser, lamento não ter tido oportunidade de conhecer ninguém daquele lado da família. Sim porque, afinal, eu ainda tenho uma família, que desconheço: quem sabe se uma avó viva, tios, primos... enfim... infelizmente apenas consanguinidades! Mas se eles nunca quiseram saber de mim, também não é agora que vou procurá-los!

Meus queridos Pais! Em relação a eles, pelo contrário, sinto uma tristeza infinda por não os ter conhecido e pelo fim trágico que teve a sua vida!

Do meu pai, Luis Filipe, a minha avó falava frequentemente. Contava, e recontava, histórias das suas traquinices enquanto criança e das "ralações" que lhe deu, durante os tempos de estudante em Coimbra. Da minha mãe, só soube pela avó Luísa que era muito bonita, com uma bela figura e uns lindos olhos claros. Ainda de acordo com a avó, tinha uma voz muito doce e tendia a falar em tom baixo... como se quisesse passar despercebida, numa reunião de amigos, como numa conversa estritamente com os de casa. Vejo, pelas fotografias, que também tinha um belo sorriso, embora não consiga perceber se nela era uma constante ou se apenas o usava nos retratos!

Mas chega desta história triste!

Vou agora passar a falar-vos dos nossos planos para o "casório". Então é assim:

  • A data já está marcada: dia 8 de Dezembro, pelas 12h30m
  • O local: a capela aqui da quinta, onde os meus pais, e outros meus antepasssados do lado paterno, também fizeram os votos e onde eu fui baptizada.
  • Padrinhos:

- do lado do Gervásio: o Rodrigo Rodrigues (Fernandes, na realidade) e a Teresa Sofia (ambos sem qualquer comentário meu, como é óbvio)

- do meu lado: os mesmos que irão apadrinhar a nossa criança que há-de ser: a Maria Carvalhosa e o Rui Fernandes

  • Convidados: para além da família directa dos meus padrinhos, o Luis Fernandes (irmão mais novo do Rui e do Rodrigo) e respectiva família: esposa e dois filhos; o meu primo José (do lado da família que tem origem em Marco de Canavezes - primo direito e grande amigo do meu pai) e os seus quatro filhos, dos quais destaco a minha prima Susana, da minha idade, filha mais velha e minha companheira de férias aqui, nas cercanias de Carrazedo de Montenegro, desde pequenina até aos tempos de faculdade, em que ela foi estudar para Lisboa e eu para Espanha. Como é natural, ela arranjou namorado e um grupo de amigos com quem passou a ir de férias de Verão. Tenho muitas saudades dela e vai ser óptimo revê-la! Depois, apenas do meu lado virão alguns bons amigos, como a Ana Cristina, a Teresa, o João e, como não poderia deixar de ser, o meu companheiro de viagens e aventuras: o Nacho, de Salamanca. Para minha dor, apenas o meu grande amigo Manuel, que se findou há uns meses, não poderá estar presente. No entanto, se for verdade que existe uma vida para além desta, e que nos é possível viajar entre os dois mundos, embora invisíveis quando já partimos, tenho a certeza de que o Manuel estará junto a mim, partilhando da minha alegria... e eu sentirei que ele está por perto!

Será uma cerimónia simples e muito restrita, como podem constatar.

Imagino que, por essa altura, vá estar um frio de rachar aqui na serra mas, tendo em conta a excelente ementa que estamos a pensar para o almoço, bem regada por criteriosamente escolhido vinho do Douro, (tarefa a cargo do Gervásio) não me parece que os convidados venham a pedir o livro de reclamações!...

E fico-me por aqui. Espero ainda voltar ao blogue antes da data aprazada mas, tendo em conta os muitos afazeres e a preparação do evento, não prometo nada... para não faltar!

O que importa é que vos vou ter no coração, meus amigos, de quem tenho recebido tanto apoio e provas de amizade!

Até lá... sejam felizes, como eu desejo sê-lo!