terça-feira, 27 de novembro de 2007

O estigma da solteirona


Afirmava a personagem Carrie, interpretada por Sarah Jessica Parker, em "O Sexo e a Cidade", no episódio em que completou 35 anos: "A partir de hoje sou, oficialmente, solteirona" e, dito isto, parecia que o céu tinha desabado sobre a sua cabeça.

Dá que pensar!... Numa sociedade em que a mulher adquiriu, finalmente, o estatuto que lhe pertence, em termos de direitos e deveres, como pode o "estigma da solteirona" continuar a fazer-se sentir de forma tão opressiva e desesperante?

Se a mulher conseguiu, de facto, a independência a todos os ní­veis, desde o sexual ao profissional e ao económico (os dois últimos intrinsecamente ligados, de resto), desiderato há séculos desejado, por que razão teima em deixar-se envolver emocionalmente em conceitos totalmente ultrapassados, que já não se lhe aplicam, portanto?

Ou será que esta verdade não é tão verdadeira assim?

Eu não me sinto solteirona aos 32 e acredito que não irei senti-lo, de repente, como se de um sortilégio se tratasse, aos 35. Nem aos cinquenta!... Isso significaria que estava a renegar tudo aquilo por que gerações e gerações de mulheres (e alguns homens, admitamos) antes de mim, lutaram!

É claro que isto não significa que eu não sinta necessidade de ter um par amoroso ou de vir a constituir família, mas isso pelas razões certas, que são as afectivas, que são as naturais. Pouco ou nada me importam as convenções sociais, decrépitas e obsoletas. Uma mulher não tem que provar ao mundo que é "capaz de agarrar um homem". Ninguém pertence a ninguém. Nenhum homem é mais "gente" do que uma mulher, ou vice-versa. As pessoas devem ficar juntas, e amar-se, de livre vontade, porque querem, porque se sentem bem dessa forma, nunca por imposições externas, jamais para satisfazer a opinião pública.

E se, um dia destes, ouvirem dizer que me casei, não fiquem admirados. Sou muito bem capaz de formalizar uma união, dessa forma tradicional, não porque quero deixar de ser "solteirona" mas porque, finalmente, surgiu alguém que quero ter ao meu lado, com quem talvez venha a ter filhos... enfim, não será um D. Sebastião que se materializa junto a mim, numa manhã de nevoeiro... será um homem com quem, conscientemente e fundamentada em razões do coração, pretendo partilhar a minha vida.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

De boas intenções...

Dizia eu, no post anterior, que iria contrariar o velho ditado e que as minhas (boas) intenções de visitar os sítios dos meus amigos virtuais (e lá comentar), e de aqui vir escrevinhar umas coisitas com maior assiduidade, eram para ser cumpridas.
Tretas, meus amigos. Tudo tretas. Ao cabo e ao resto, já lá vão praticamente três semanas desde que andei por estas bandas.

Temas de que falar não me faltam, mas o Juramento de Hipócrates, que faço questão de seguir escrupulosamente, obrigar-me-ia a ficcionar, a alterar substancialmente o que vos contasse, para que não houvesse qualquer possibilidade de quebra de sigilo da minha parte e, em consequência, de identificação de casos reais. Como os meus amigos bem sabem, para isso não tenho jeito. Não sou detentora de dotes de romancista. Nem de poeta. Em ambos os casos, para tristeza minha... porque sou grande apreciadora da arte da escrita. Ai, ai!... Enfim!...

Resta-me, então, falar de mim, da minha vidinha por vezes tão "sem-graça" (para não dizer "desgraçada", porque não vos quero pôr a chorar - snif, snif, snif... - agora, num arremedo à la Florbela Espanca: "bem bastam as enchentes dos rios formados pelas minhas lágrimas!"). Uau! Esta deixou-me de rastos! (risos).

Pronto, já respirei fundo, e agora, ainda a propósito desta profissão pela qual em boa hora optei, tento deixar um pouco de humor, para que a minha passagem de hoje por aqui não pareça tão cheia de coisa nenhuma. (Se não conseguir, talvez desista... sei lá, ou talvez não, sei eu lá disso agora!)

Bom, mas vamos à "suposta" piada:

Sabem o quanto sofriam os meus colegas até ao Séc. XIX, antes de ter sido inventado o estetoscópio?
Ora apreciem-me bem esta ilustração:


Caricatura de Draner, pseudónimo de Jules Renard (1833-?) in "Le Charivari: Variations médicales" (1880-1890). Fonte: History of Medicine Division. © National Library of Medicine.

Tradução da legenda:

" Eu achava, doutor, que era nas costas que se auscultava..."
" Para os peitos fracos, sim... mas não é o seu caso."

"Deliciosa a vida dos físicos (prodigiosos ou não) do passado mais remoto!", pensarão alguns dos meus amigos, olhando apenas o lado sensorialmente agradável da questão...
(seus malandrecos!!!).

Com esta me vou, que se faz tarde, e o estado de "sem-graça" continua...