quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A primeira "eco"



"Como vês, Mafalda, está tudo bem. Não vejo qualquer necessidade de fazer a amniocentese", disse a Ana Cristina, minha colega obstreta, que logo me apeteceu abraçar e beijar.
Em vez de ser eu a fazê-lo, senti um beijo na testa... longo e meigo... era o "pai babado", pois é claro!

Fomos para casa a cantar "La Donna e mobile", ao desafio com Pavarotti... (risos) como se fosse possível! Não é que o Gervásio não tenha uma excelente voz e não se esforce (sobretudo nas notas mais altas!.. pronto, pronto, já não rio mais - por agora - prometo!)

"E não é que a menina é mesmo linda?" pergunta-me o Gerbas (como lhe chama o Rui) ainda emproado de Pavarotti... tenho que voltar a rir, afinal. Às gargalhadas, desta vez. "Tu e a tua mania de que há-de ser uma menina... por acaso lhe conseguiste ver o sexo? Nem a Ana Cristina se atreveu a arriscar... para não errar... mas tu, meu querido, tens a certeza de que é uma rapariga... até porque não detectaste qualquer protuberância entre as perninhas da criança, não é assim? Quanto a ser linda, aí estou de acordo contigo... qualquer feto de 12 semanas é de uma beleza inimitável... mas só pelo facto de se tratar de um ser vivo que germina dentro de nós... não mais do que isso!" mais risos, inevitavelmente. Desta vez, em coro... afinado, para variar!

Quando parámos o carro, após a longa e bem-disposta subida para o monte, disse-me: "Espera aí! Não saias ainda" (lembrei-me logo daquela canção da Bethânia ("e eu, como era de costume, obedeci" mas, agora, contive o riso).
Eis senão quando deu a volta, abriu a porta e pegou-me ao colo. Foi assim que entrámos em casa, como num filme, quando os recém-casados, finalmente livres dos convidados, entram num espaço só seu e gritam em uníssono: "enfim sós!". Demais!... demasiado cinéfilo para ser verdade... mas foi. Isto e o resto:

Despejada que fui, cuidadosamente, no sofá da sala, o meu amado ajoelha-se junto a mim, mete a mão ao bolso e saca de uma caixinha que, mais uma vez, tal como nos filmes, só podia conter um anel de noivado. Aqui, ía-me engasgando para suster o riso. Mas consegui... e lá saíu, dos seus lábios, a esperada frase: "Casas comigo, Mafalda?"

Abracei-o, muito, de tão incapaz que me sentia de balbuciar qualquer palavra (pelas mais variadas razões... sendo a principal a vontade de rir, que só a muito custo conseguia conter).

Passados uns momentos, e uma vez que eu não lhe largava o pescoço, quase o sufocando, o Gervásio enervou-se: "Então? a resposta é para hoje?"

"Sim", consegui responder.

"Sim, é para hoje... ou sim, casas comigo?"

"Ambas" respondi, soltando finalmente o riso, que não conseguia mais aguentar. Beijei-o de seguida, para lhe provar que não estava a brincar, apenas extremamente divertida e bem-disposta.

"Vamos fazer a lista?" perguntou ele, de imediato, levantando-se como se estivesse ajoelhado sobre uma mola.

"Lista de convidados, amor? Mas ainda nem falámos em data, nem local... tem que ser tudo assim a correr?" atrevi-me a perguntar, agora já um pouco cansada de tanta excitação em tão pouco tempo.

"Sim, meu amor. A lista de convidados é fundamental. A data... hum... assim que a burocracia o permitir... não quero a minha noiva com a barriga ao pé da boca!!! quanto ao local... parece-me óbvio que seja aqui mesmo, na capela da tua casa... este lindíssimo casarão onde te descobri numa noite de vendaval!"

Estava rendida. Tinha mesmo que ser assim. Com o Gervásio, uma vez dito, estava decidido. Para mim, aproximava-se agora a parte mais difícil: a famosa lista. Era certo que iríamos passar o jantar e uma boa parte do serão a decidir quem iriam ser os padrinhos e se eu deveria, ou não, convidar a minha família de Inglaterra, afinal os meus parentes mais chegados, através de laços consanguíneos, embora não tivesse, para com eles, qualquer sentimento de afecto... enfim!... como não se fartava de repetir o parvo do Castelo-Branco "noblesse oblige"... "ou não" , digo eu...

Voltarei com notícias em breve. Agora tenho mesmo que ir descansar um pouco antes do jantar e da controversa batalha que pressinto estar para aí a formar-se.

Beijos, meus amigos blogoesféricos, para quem escrevo como quem o faz para um diário, com a diferença de que é certo e sabido que, desse lado, alguém amigo me lê e responde.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Nas tuas Palavras


O meu amigo Paulo de Carvalho , a partir de um comentário que fiz ao seu poema "Movimento a um tempo de pausa", transfomou as minhas palavras, em prosa corrida, em algo que me atrevo a considerar, com esta nova estrutura, uma tentativa poética. Aqui reproduzo, com muito carinho, o novo arranjo com que ele me brindou:


Na casa do alto do monte
[apesar do vento agreste
os teus versos ecoam
- memórias de lendas antigas
chegam-me os sons de cordas tocadas
[por bardos e menestréis
em alaúdes e bandolins.

Nas tuas palavras soam...

as mais lindas baladas que algum trovador já cantou.
Contigo, regresso a um passado imaginário
[onde, no intervalo das danças
bobos da corte exibem
- acrobacias
os cavaleiros bebem
- doces néctares
e as damas sorriem
- e murmuram disfarçando contidos pudores
e abanando os leques.


Obrigada, Paulo (assim até parece que sou um "bocadinho" poeta...).