quinta-feira, 26 de julho de 2007

Limerick

Combinei encontrar-me com um amigo espanhol, que também anda em viagem por estas bandas, na cidade de Limerick. Desde há muitos anos que desejava conhecer este local, por nenhuma outra razão que não fossem os poemas com o mesmo nome, que fizeram as minhas delícias desde que comecei a conhecer alguma literatura de língua inglesa e me deparei com essas preciosidades. Poemas de cinco versos, têm a particularidade de fazer com que o último introduza a surpresa e a comicidade dessa popular forma poética. Não resisto a partilhar o meu limerick preferido:

There was a youg squire from Japan
whose verses just never would scan
when asked why this was
he replied "it´s because
I always try to fit as many words into the last line as ever I possibly can"


Para minha decepção, na cidade de Limerick não nos deparamos com jovens poetas a declamar limericks nas esquinas das ruas, nem se vêem limericks grafitados nas paredes, nem as livrarias se encontram a abarrotar de livros de limericks.
É uma cidade bonita, apesar dessa lacuna imperdoável.
Ontem á tarde fui saír com o meu amigo: vagueámos pelas ruas da cidade, observámos curiosas fachadas coloridas, fortemente constratantes nalguns prédios antigos, entrámos em tudo quanto era livraria (pois claro!) e fomos visitar o famoso castelo de St. John.
Sempre entretidos na conversa, já tinha anoitecido quando nos lembrámos que não tínhamos comido nada desde a hora do almoço, que tinha sido bastante frugal, no meu caso.
Debandámos então para a zona dos restaurantes à procura de um onde pudessemos saciar o apetite que começava a fazer-se notar fortemente.
Passava um pouco das nove quando enfiámos pela principal rua onde é suposto "dar-se ao dente". Entrámos num. Surpresa das surpresas: não era restaurante. Ou antes, tinha sido até há bem pouco tempo mas, a partir das nove, tinha virado bar e só vendiam bebidas. Comidinha, que é boa, nada.
Entrámos e saímos de um segundo com a mesma desagradável mensagem: "Sorry, no food. Drinking only".
Ao fim de termos tentado uma meia-dúzia, perdi a vergonha e, no último restaurante onde entrámos, perguntei a uma jovem irlandesa com ar simpático se não nos arranjaria, pelo menos, um pouco de pão para comer. Ela sorriu, com ar de quem poderia fazer a sua boa acção do dia e dirigiu-se para a cozinha. Foi com um sorriso idêntico que voltou, mas com uma informação terrível: "So sorry, I just thought there was some bread left but... someone must have taken it home. Sorry..." e fez um barulhinho com a língua no final como quem diz "coitados, tenho mesmo pena de vocês".
Desalentada, disse ao meu amigo que ía para o bed and breakfast onde estava hospedada e que talvez aí me safasse com o room service. Imediatamente ele me tirou as peneiras: "aqui não há disso, menina. Se queres comer, vais ter que esperar pelo desayuno, amanhã bem cedo."
Sentei-me numas escadas, desesperada com fome, prestes a gritar de raiva. Foi então que o Nacho (ah, esse é o nome dele, ainda não tinha referido) me disse: "sabes que uma pint guiness equivale, em termos calóricos, a um bom bife com ovo a cavalo?" Respondi-lhe, com um sorriso amargo: "no me digas tonterías, hombre".
A verdade é que ignorou a minha displicência, me pegou no braço e me arrastou até ao pub mais próximo. Sentámo-nos ao balcão e começámos por pedir, como é óbvio, "two pints Guiness, please". A cerveja soube bem. Sou fã, como sabem, mas quando cheguei ao fim do primeiro copo continuava a sentir o estômago a reclamar por matéria sólida - comida, mesmo. Queixei-me e imediatamente o meu companheiro de infortúnio pediu mais duas.
Assim continuámos, noite dentro, com algumas idas ao wc para "desbeber". Às tantas, já ríamos por tudo e por nada e tínhamos acabado por esquecer o apetite devorador.
Foi amparada pelo Nacho que reencontrei o caminho para o meu alojamento. Despedimo-nos, com muitos abraços e beijos e risadas, subi ao quarto, e caí "redonda" na cama.
Hoje, às sete da manhã já estava a pé, à porta da sala-de-jantar, esperando ansiosamente que a dona da casa viesse servir o pequeno-almoço. E com que magnífica refeição me presenteou: um típico irish breakfast onde não faltavam as salsichas, o bacon, o feijão, o ovo estrelado, as batatas fritas e sei lá que mais... se alguma vez me tinha passado pela cabeça comer feijão às sete da matina!!! Ai, ai, se a necessidade aguça o engenho, não há como uma barrigada de fome para acabar com as esquisitices... ha, ha, ha... (ainda não consegui parar de rir. O efeito da Guiness dura e perdura!).
Até breve. (ha, ha, ha, ha, ha...)

9 comentários:

Maria disse...

E não foste de modas, logo um pint.... é que podia ser half a pint.....
Imagino-te, vês como a guiness mata a fome... temporariamente? É uma questão mental.
De vez em quando, para matar saudades, compro aqui guiness. Que bebo numa dessas canecas de vidro fininho. Mas não é a mesma coisa...

Beijinhos

Graça Pires disse...

"Juventud divino tesoro", canta Paco Ibañez. Lembrei-me da canção pela maneira solta como estás a divertir-te. Que bom Mafalda. Um beijo.

mixtu disse...

yayaya
guiness...
inteligente o espanhol... o nacho e gentleman e mais não digo, yayaya
desconhecia em completo essa forma poética...
yaya, comer, mas ...
yayaya
cidade bonita, sem dúvida...
abrazo amigo, lendo as peripécias...
outra cidade e mais "desgraça"

Rosa dos Ventos disse...

Gostei da tua noitada!
Um jejum de vez em quando não faz mal a ninguém! ;-))
Continuação de boas férias ...e começa a embrulhar quaquer coisa do petit déjeuner e a meter na mala...por causa dos desacertos das refeições!

Bichodeconta disse...

Boa continuação de férias.. Um abraço, Ell

Maria disse...

Passei de corrida mas estou a adorar estas tuas descrições. Que belas férias!!! Continua e aproveita tudo, tudo!
Beijos grandes

jorge esteves disse...

Agora percebo que há outras razões (para além do filme 'Os cavalos também se abatem'...)para não gostar de bife com ovo a cavalo...
Abraço.

M. disse...

Deliciosa, esta aventura.

Teresa Durães disse...

não conheci Limerick snif!! (mas a Guiness... ehehehhehe)

mas a Guiness alimenta!!! ehehehhe

(ai... morro de inveja!)