
Maio. Mês das papoilas. Papoilas ondulantes ao vento. Este vento agreste que nem em plena Primavera nos abandona. Apetece rebolar nos campos repletos de papoilas. Não o faço porque os estragos seriam muitos. Após a minha passagem, ficaria um rasto de papoilas dobradas, amachucadas, mortas. Não quero isso. Contento-me em olhá-las. Assim, tenho a garantia de não as molestar e poder deixá-las continuar a oferecer-me o espectáculo da sua beleza durante o tempo possível.
Esta manhã fui passear por um vasto campo de papoilas. Era um imenso tapete, um manto sem princípio nem fim. Algures, no meio, surgiu uma clareira. Deitei-me nela. O meu corpo estendido, completamento descontraído, em contacto directo com a terra. Eu era uma ilha num mar de papoilas. Deixei que o cheiro da terra me penetrasse as narinas, me irrompesse através da pele e alcançasse o mais íntimo de mim. Imaginei que o chão era o meu amante e o vento que, rentinho, passava por mim com suavidade, me acariciava como ele o teria feito. Uma aventura telúrica. Como testemunhas do meu prazer apenas as lindas e doces papoilas.
Quando se vive num ermo, simultaneamente selvagem e puro, a aspereza da terra chega a parecer meiguice. A mente deixa-se invadir por sonhos, como por cavalos a galope, e o corpo, o corpo acaba por sentir o que o imaginário quer que seja sentido. Hoje fui uma mulher muito amada e amei profundamente. Depois do turbilhão de emoções, de ter sido assaltada por uma enxurrada de sentimentos voluptuosos, voltei para casa com a leveza de quem tinha sabido o que era o amor físico, mesmo que tudo se tenha passado só entre mim e a natureza.
16 comentários:
Hoje correu por aí um ventinho muito agradável, nada agreste!
Por aqui também há belos campos de papoilas, apesar desta arisca Primavera!
Um abraço
Gostei deste recanto! Muito bom o tipo de escrita.
Parabéns!
Abraço!
Abençoado seja quem ama a natureza.
Voltarei para te ler com mais cuidado.
Beijitos
Nova que és, acreditas e essa é a tua missão: sonhar! Fazê-lo bem. Agradeço o teu comentário. Abç
Olá, eu acho que a natureza é o equilibrio da vida...
Um abraço...
Parabéns.
Este teu texto é uma delícia.
Uma pequenina história pessoal (se é fictícia ou real, não é imnportante) bem delineada.
Beijinhos.
Passei (já devia ter sido antes...) para ver se estava tudo bem. Contou-me um passarinho que sim e vou devagarinho para não distrair a dança das papoilas...
Abraço!
Esta estória é... primaveril.
Acho que pode ser possível fazer esse tal amor com a natureza, com o vento a tocar-te, como descreves.
Acho que sim...
Beijos
Olá mafalda gostei de te ler.
Gostei desse teu amor fisico com a natureza.
Todos temos, creio, esse tipo de amor mas por vezes nem damos por isso.
Quando deixamos correr pelas mãos a areia da praia, quando nos debrucamos sobre uma flor para inspirar o seu cheiro, quando afundamos as mãos na àgua do mar e as levamos à boca para sentir o sal, quando acariciamos uma pedra que encontramos e a achamos bela, lisa e macia, quando acordamos e nos esperguiçamos enquanto ouvimos os passarinhos lá fora... enfim em tanta tanta coisa que era importante reparar e nem damos por isso.
Nunca tive a sorte de me deitar num campo de papoilas mas já rebolei num campo de trigo em miuda e nunca me esquecerei da sensação.
Também tenho esse amor físico com os livros, sabes.
Adoro acariciar cada página que li e gostei... ou cada uma que vou ler...
Perguntas-te se eu ia escrever um livro on line ou um conjunto de contos.
"Começar de novo" há-de ser um livro, espero que publicado um dia.
On line vou postando excertos desse livro que tem 3 personagens, a Ana , a Luisa e o Carlos e por isso cada excerto tem normalmente o nome de um deles. Apenas a Ana escreve na primeira pessoa, para os outros sou eu a narradora.
Vai lendo e seguindo acho que vais gostar.
Beijos grandes.
Isabel
Gostei deste "fazer amor" com a natureza. Porque essas experiências acontecem mesmo a quem tenta senti-la na sua plenitude. **
Olá Mafalda, espero que não se importe de entrar no desafio dos "meme" que anda a circular na Net, pois passei-lhe a palavra. Um beijo.
Gosto tanto do campo de papoilas...
Querida Graça,
Este seu convite é uma honra para mim... recém-chegada que sou. Vou ver se arranjo inspiração.
Beijinho.
Vida de Vidro,
Sabia que me entenderias, ainda antes de ter o teu comentário. Há coisas que não se explicam, sentem-se. Nessa categoria incluem-se, por exemplo, as empatias.
Viva o amor por (e com) a natureza!
Beijo.
Querida Helena Isabel,
Achei deliciosa a forma como descreveste a tua relação física com coisas materiais, que não pessoas. Particularmente interessante é a tua afinidade erótica (posso dizê-lo?) com os livros.
Gostei muito do teu comentário.
Obrigada e um beijo.
Tinta permanente,
Sabes o prazer que me dão as tuas visitas e o carinho que sinto ao ler os teus comentários? Não sabes.
Talvez comeces a sentir qualquer coisa ténue após este abraço bem apertado que te estou a dar.
Com o tempo hás-de sentir outras emoções (eu acredito mesmo nisto da empatia!)...
Obrigada. Um beijo.
Rosa dos Ventos, Cusco, Besnico di Roma, Bettips, O Sal da Nossa Pele, Nilson Barcelli, Maria,
Obrigada por não terem desistido de visitar-me e por continuarem a incentivar-me. Vou tentar pagar em dobro o que me dão com as vossas palavras gentis e amigas.
Beijos e abraços para cada um.
P.S. desculpem tê-los juntado num único comentário mas senti que estava a exceder-me ao continuar a agradecer individualmente... coisas de principiante... serão???
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